Autor: Marlene Barroso

Fundadora da SOMATIC – Escola de Psicoterapias Corporais – Coordenadora e Terapeuta de Somatic Experiencing® e Bodynamic em Portugal e Espanha.

É “luto” ou é trauma

Nestes dias, com a morte da Rainha Isabel II, é inevitável falar sobre o luto. Mas aprofundamos e esclarecemos as diferenças que existem entre luto e trauma.

Os sintomas do luto emocional e do trauma são diferentes:

⚫⚪ No luto, experienciamos a tristeza do evento perante nós como algo emocional e real; no trauma, o choque que sentimos dá-nos um senso de estarmos a viver algo de surreal.

⚫⚪ No trauma, existe sempre luto emocional. Quer o trauma advenha de um desastre – como um incêndio ou terramoto – ou de uma traição – como abuso sexual ou abandonamento -, dele resulta a perda de algo de grande valor.

Quer a perda seja material – como uma casa e bens pessoais – ou algo intangível – como a perda da inocência -, a percepção do mundo como um lugar seguro é perdida.

⚫⚪No trauma, o processo de luto é complicado pelo caráter inesperado e dramático do evento traumático. Fica dificultada a tarefa de assimilar os sentimentos e imagens vividos de uma só vez. O horror da experiência precisa de ser processado para que o choque por ela gerado seja libertado do corpo e da psique.

⚫⚪ A distinção entre luto e trauma é importante. Entre as razões do porquê, estão:
◾ A identificação correta da origem dos sintomas;
◾ Possibilitar a obtenção de ferramentas para o processamento do trauma e das emoções subjacentes;
◾ O processamento atempado do trauma, evitando que o senso de impotência se prolongue, aumentando a vulnerabilidade a stress crónico, mudanças de humor abruptas e mais tarde, distúrbios de personalidade;
◾ Permitir a coexistência do luto com o viver da vida, evitando a detenção em fantasias sobre como as coisas eram antes do evento e capacitando o estar no aqui e no agora;
◾ Aceitação, compreensão e resolução da situação de trauma.

Fez sentido? ?

8 sintomas de trauma

“O que a voz cala, o corpo fala”. Hm, de que forma? E o que tem o corpo a ver com trauma?

Comecemos a responder com uma pergunta também: como sabe que está com ansiedade, quando está ansioso?

Talvez o seu coração bata mais rápido, exista respiração pouco profunda e tenha dificuldade em ter uma boa noite de sono – todos estes, fenómenos que têm lugar no seu corpo.

Também o corpo, e não só a mente, é palco do trauma.
Vejamos: perante um evento traumático, o sistema nervoso prepara-nos para nos protegermos de uma ameaça.
Fá-lo desencadeando uma série de fenómenos corporais: produção de hormonas do stress, aumento da pressão sanguínea, desviando do estômago para músculos e os rins o fluxo sanguíneo (de forma a permitir que nos movimentemos mais rápido), entre outros.

O trauma acontece quando nos é, por algum motivo, sequestrada a possibilidade da auto-proteção, assim como a de sentirmos completamente as emoções que esse evento gera em nós.
O resultado disso é a continuação do senso de estarmos em perigo.

E se não resolvermos essa situação? “O corpo fala”.
Os sintomas que aqui referimos são algumas formas de o corpo o fazer.

No início do processo de cura:
? É normal não haver consciência de situações ou “gatilhos” que nos deixem ativados.
? E está tudo bem em estranhar a ideia do corpo como capaz e efetivo mensageiro.

Afinal, o corpo é um interveniente em falta, apesar de necessário, na cura de trauma.

Subscreva a newsletter


© All rights reserved. - Powered by webiton